Ser Padre é Uma Questão de Muito Amor!
Ser Padre é Uma Questão de Muito Amor!
A Igreja Católica no Brasil comemora o mês de Agosto, como mês das Vocações. Nesta primeira semana somos convidados a orar pelas vocações ao ministério ordenado. Hoje em todas as nossas celebrações comemoramos o Dia do Padre.
Na realidade o dia do Padre é 04 de agosto, pois neste dia a Igreja celebra a festa de São João Maria Vianey. Ele é o padroeiro de todos os padres, nasceu na França em 1786 e faleceu em 1859. Sentiu-se chamado para o sacerdócio, mas não foi capaz de seguir o curso normal do seminário, porque não conseguiu dominar o latim e a filosofia. Afinal, considerando a virtude notória do candidato e a falta de padres na diocese, o bispo resolveu ordená-lo, embora achando que nunca teria discernimento suficiente para atender confissões. E foi exatamente o contrário o que se sucedeu. O Padre Vianey revelou-se extraordinário apóstolo do confessionário, com luzes sobrenaturais que o faziam ler as consciências, converter os pecadores e reconciliá-los com Deus. Começaram a acorrer de toda França, e até do estrangeiro, peregrinos desejos de confessar-se com ele ou pedir a sua orientação. Foi um pároco zeloso e ardente do pequeno povoado de Ars durante quase 40 anos. Passava de 12 a 18 horas no confessionário e assim consumiu sua vida. Nesta reflexão, vamos considerar algumas razões para ser padre, isto é, participante do sacerdócio de Jesus Cristo, hoje e sempre.
Primeiramente, é preciso compreender que o padre foi chamado por Deus. Não é uma vocação que alguém escolhe, porque se julga apto para tal, ou porque acha interessante. Alias, na sociedade atual, hedonista e secularizada, a figura do padre é objeto de muita discussão e, por vezes, ridicularizada. Portanto, a escolha é de Deus, e o seu chamado não se discute; acolhe-se no silêncio do coração e se dá uma resposta generosa. Por isso, o sacerdócio é um privilégio, imerecido, é dom, é graça. Quando da eleição dos apóstolos, e também dos discípulos, Jesus passou a noite em oração. Pela manhã, Ele escolheu os que queria para o seu grupo, com os quais fundou a sua Igreja (Lc 6,12-16; Mc 3, 13-19). E o Senhor continua chamando homens para que se consagrem inteiramente a serviço do Reino.
O padre é um homem de Deus. Esta é a sua característica fundamental. Tudo o que se queira acrescentar à sua figura, são detalhes acidentais. Jesus, aos 12 anos afirmou: Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai? (Lc 2,49). Tal é a realidade mais profunda do Padre ocupar-se das coisas de Deus. Por isso, ele está no mundo, mas não é do mundo (Jo 17,16). Isto não impede que o Padre seja uma pessoa politizada e comprometida com a realidade que o cerca. Faz parte da sua missão orientar o seu rebanho para a prática da cidadania e um posicionamento ético segundo a moral cristã, sempre tendo em vista o bem comum.
O padre é um homem de Deus que busca o rosto de Cristo. Por isso, ele é chamado a ser representante do próprio Cristo, ele O torna novamente presente. E quanto mais transparente e mais perfeita for essa presença, melhor responderá às indagações dos que a procuram. O povo quer ver, tocar, perceber, ouvir o Cristo na pessoa do padre. Deste modo, a palavra do padre não é dele mesmo, mas é Palavra de Deus. É chamado a configurar a sua vida à vida de Cristo.
Por ser um homem de Deus é também um homem do povo. Como o sacerdote não se pertence, ele pertence ao povo a ele confiado. O povo tem o direito de encontrar no sacerdote um pastor, um amigo, um conselheiro, enfim, encontrar o próprio Jesus Cristo; o Bom Pastor. Ser verdadeiro servidor do povo, esta é a sua missão.
É importante que o povo tenha também consciência de que o padre embora sendo um homem de Deus, revestido pela graça divina continua sendo um homem marcado pela fragilidade e que carrega em si as ambigüidades como todo e qualquer ser humano. E como toda pessoa humana precisa estar num permanente estado de conversão, numa busca constante de crescimento interior e de amadurecimento.
A Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis Dar-vos-ei Pastores segundo o meu Coração (Jr 3,15), escrita pelo Papa João Paulo II e publicada a 25 de março de 1992, apresenta cinco qualidades essenciais que todo o padre precisa ter:
1 - Ser homem, física e psicologicamente, sadio.
2 - Ser um homem de oração. O povo quer ver o seu sacerdote rezando. Por sua vez, ele deve rezar não para ser visto, mas porque a oração é algo essencial em sua vida. Sacerdote que não reza, não é verdadeiro sacerdote. Além da Eucaristia que é a oração por excelência na vida diária, bem como a Liturgia das Horas, ele não pode e nem deve dispensar sua oração pessoal. Sacerdote que não encontra tempo para sua intimidade com Deus acaba se tornando mero funcionário do sagrado e sua vida acaba também caindo em um grande vazio.
3 - Ser uma pessoa culta. A formação intelectual de um padre exige um mínimo de 7 anos de estudos universitários, incluindo as Faculdades de Filosofia e Teologia, além da comprovada experiência pastoral.
4 - Ser um verdadeiro pastor. Devem conhecer os problemas que abatem sobre a humanidade, para dar a resposta pastoral necessária, dentro de uma visão eclesial coerente.
5 - Ser um elemento de equipe, que saiba viver em comunidade e para a comunidade. Que nunca trabalhe só, a não ser nas coisas no trato direto com Deus. Tudo o mais seja feito em conjunto com a comunidade a que ele serve. Isto exige flexibilidade, equilíbrio e capacidade de diálogo.
Ser padre é uma questão de muito amor. Somente quem ama profundamente se decide a entregar toda a sua energia, seu tempo e sua vida à serviço do Reino de Deus. Neste mês vocacional e particularmente nesta semana, cada sacerdote é convidado a vibrar com a sua vocação e poder contar sempre com o carinho, a amizade e a oração do nosso povo. Só assim, o sacerdote não será um sacerdote de qualquer jeito, mas será sempre do jeito de Jesus.
Fr. Adalto Antônio