PARÁBOLA DO JUIZ INÍQUO E DA VIÚVA IMPORTUNA
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XXIX DOMINGO DO TEMPO COMUM
Parábola do juiz iníquo e da viúva importuna (Lc 18,1-8)
Jesus não hesita em comparar a ação de Deus com aquilo que ocorre nas vicissitudes (infortúnios) humanas: um arrombamento noturno, um escândalo administrativo e aqui uma boicotagem da justiça por parte de um magistrado que enfim se entrega para não ser mais incomodado. Pode-se entender todo o efeito da história narrada por Jesus recordando a praxe processual em vigor no seu ambiente. Uma pobre viúva, à morte de seu marido, ficava privada do amparo social e, em caso de controvérsias, se não tinha dinheiro, devia confiar na honestidade dos magistrados. Em nosso caso trata-se provavelmente de uma mulher que deve defender seus direitos contra as pretensões de um adversário; pode-se tratar de pendências judiciárias ou dívidas deixadas pelo seu marido, de hipoteca sobre a herança patrimonial etc.
Esta mulher corajosa e decidida não escolhe advogados, nem procuradores, mas contra o costume de seu ambiente, ela mesma apresenta a urgente solicitação ao juiz. Este, segundo o relato evangélico, é um magistrado iníquo, sem fé e sem lei. Mas no fim cede para não ser mais incomodado pela mulher importuna.
Nesta altura segue a aplicação: Deus com certeza assumirá a causa de seus eleitos, fará justiça plena aos que lhe suplicam. Esta interpretação da parábola, que põe em comparação um juiz iníquo deste mundo com o modo de agir de Deus, baseia-se no pressuposto bíblico de que Deus é o defensor dos fracos e dos oprimidos (cf. Ecl (Sr) 35,12-18; Dt 10,17-18). No atual contexto de Lucas, a parábola está relacionada com a situação dos discípulos que vivem numa condição de perseguição, enquanto se faz esperar a intervenção libertadora de Deus. Por que o Senhor demora? Por que fica calado? É a pergunta que atormentava os justos oprimidos na história do povo de Deus (Sl 44,23-25; 89,47; Hab 1,2-4). Na comunidade de Lucas esta interrogação sobre o silêncio de Deus se torna pergunta acerca da vinda do Filho de Deus. Quando, Senhor? Perante esta espera, capaz de se tornar decepção, o evangelista lembra a promessa de Deus: com certeza ele intervirá para libertar os que o invocam (18,7). A demora não é devida ao descuido, como no caso do juiz iníquo, mas à paciência de Deus, que com a espera quer deixar espaço para a conversão e salvação (cf. 2Pd 3,9; Ap 6,9-11). Mas exatamente em relação a isso há motivo para refletir e se perguntar: “Quando o Filho do Homem vier, encontrará fé sobre a terra?” (18,8b). É estranha esta conclusão da parábola, deixada suspensa. Também a menção ao Filho do Homem, embora evocando o contexto literário de Lc 17,22-27, não se adapta imediatamente ao teor da parábola. Mas o pensamento do evangelista se torna suficientemente homogêneo e linear. Por parte de Deus, há a garantia e a promessa de uma intervenção libertadora e salvífica, apesar do silêncio evidente e da demora. Mas, por parte do ser humano, por parte da comunidade dos discípulos, será que é realizada a condição para acolher o Filho do Homem como salvador? Esta condição é a fé que, nas dificuldades e perseguições, transforma-se em fidelidade e coragem no testemunhar diante dos homens (cf. 9,26; 12,9). Tal fidelidade se expressa e se alimenta na oração constante e insistente. Uma oração que não conhece depressões e desânimos (18,1). Nesta nova interpretação, a parábola se torna um ensino sobre a oração; e a viúva que, com sua insistência, constrange o juiz à intervenção, é um modelo de perseverança. Esta aplicação da parábola pode parecer reducionista; mas, em compensação, a mensagem é concreta. Esperar com firmeza e fidelidade a vinda do Filho do Homem, ou seja, a libertação definitiva, é condição para uma oração corajosa. Libertação essa que não se realiza de maneira mágica ou mecânica com o passar do tempo, numa progressão cronológica rumo ao fim, mas com a abertura decidida e corajosa para a possibilidade do novo e gratuito, contra todos os determinismos que alimentam a resignação e a passividade.
Que busquemos o Senhor e ao mesmo tempo levemo-lo aos irmãos e irmãs através da nossa “prática orante”! Amém!
Frei Juracy Aguiar, OFMCap (membro da PROCASP)